・02/12/2022・Texto por Redação Power Supply
A guerra entre Rússia e Ucrânia e todas as repercussões da invasão na economia global parecem temas distantes do Brasil. Não são. O aumento de quase 25% do preço do óleo diesel em março tem disseminado alta de preços em praticamente todos os setores da economia, desde o transporte de passageiros até o frete de produtos básicos do dia a dia, como os alimentos. Para o diretor técnico da Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Bruno Lucchi, o agronegócio brasileiro foi prejudicado como um todo. Os produtos com preços mais afetados são aqueles cujas cadeias são mais intensivas em mecanização, como cana-de-açúcar, soja, milho e café. “O frete vai encarecer e afeta diretamente o orça- mento do produtor rural”, disse Lucchi. “Quando há aumento dos preços dos combustíveis, há um repasse para todos os produtos e serviços da economia brasileira, uma vez que o principal mo- dal que usamos é o rodoviário.”.
É nessa corda-bamba entre combustíveis e custo do frete que as empresas de logística tentam se equilibrar. O CEO da Frete.com, o argentino Federico Vega, afirma que não há alternativas a não ser repassar os aumentos dos custos para o valor do frete. “Profissionais autônomos e empresas de logística já não conseguem mais absorver qualquer elevação de custos, já que há anos tem tentado buscar alternativas para evitar os repasses”, disse Vega, que estima uma redução de 30% a 50% dos custos operacionais com a utilização de mais tecnologia no supply nacional.
Segundo ele, a busca por mais eficiência, com uso de tecnologia no vai-e-vem dos caminhões, tem sido o caminho buscado pelos profissionais do setor para evitar que a operação fique no vermelho. “Manter o caminhão carregado na ida e na volta ajuda a diluir os custos do setor, mas ainda há outras demandas, como a alta carga tributária, que precisam ser reavaliadas.”.
A situação é, de fato, preocupante. Desde 11 de março, o preço médio de venda da gasolina da Petrobras para as distribuidoras passou de R$ 3,25 para R$ 3,86 por litro, um aumento de 18,8%. Para o diesel, o preço médio passa de R$ 3,61 para R$ 4,51 por litro, uma alta de 24,9%. Como compa- ração, na semana encerrada em 19 de maio de 2018, às vésperas da greve dos caminhoneiros, o litro do diesel comum era vendido por R$ 3,60.
O Conselho Nacional de Estudos em Transporte, Custos, Tarifas e Mercado da NTC&Logística (CONET), em sua última reunião, constatou a necessidade da recomposição do preço do frete em razão dos aumentos dos insumos do transporte. Na ocasião, foram apurados os índices a serem aplicados no serviço de cargas fracionadas (18,58%) e de carga (27,65%). “O aumento do preço do diesel, de 24,9%, acarreta a necessidade de reajuste adicional no frete de, no mínimo, 8,75%, fator este que deve ser aplicado emergen- cialmente nos fretes, acumulando um reajuste total de 28,96% na carga fracionada e 38,82% na carga lotação”, disse Ricardo Lerner, executivo do setor de logística de combustíveis da entidade.
Vale lembrar que o diesel é um dos maiores custos nos insumos da atividade de transporte, chegando à média de 35% para uma transportadora e podendo chegar a 50% entre os caminhoneiros independentes. Por isso, a inflação aumenta os riscos de uma nova paralisação do setor de transporte, com impacto em toda a estrutura da cadeia de suprimentos. “O que temos de ter em mente é que os reajustes não pararam por aí. Logo teremos novos reajustes”, disse o presidente da Associação Brasileira de Condutores de Veículos Automotores (Abrava), Wallace Landim. Segundo ele, essa não é uma pauta apenas dos caminhoneiros, mas de toda a sociedade. “Assim como aconteceu em 2013, está na hora de toda população protestar e acabar com essa situação difícil. Ou os brasileiros acabam com os reajustes insuportáveis dos combustíveis, ou os combustíveis acabam com os orçamentos dos consumidores.” Diante desse impasse, por aqui a guerra dos custos parece estar longe do fim.
“Quando há aumento dos preços dos combustíveis, há um repasse para todos os produtos e serviços da economia brasileira, uma vez que o principal modal que usamos é o rodoviário.” — Bruno Lucchi, diretor técnico da Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA)