・16/08/2023・Texto por Redação Power Supply
A tão aguardada redução da taxa básica de juros, a Selic, começou na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, no início do mês, mas o corte de 0,5 ponto percentual – de 13,75% para 13,25% ao ano – não deverá ter efeito rápido e visível sobre os juros na ponta, para empresas e consumidores. Isso porque, segundo especialistas ouvidos pela revista Power Supply, fatores como inadimplência elevada e desaceleração no ritmo de concessão de crédito, tendem a segurar em patamar ainda alto o custo do dinheiro pelo menos nos próximos três meses. Pelas projeções do BC, o crédito deve crescer cerca de 8% neste ano, depois de uma alta de 15% ao ano entre 2020 e 2022. Outro fator que deve retardar uma queda mais acentuada dos juros é a precificação do mercado com o corte da Selic anunciado no começo de agosto. Com a inflação mais próxima da meta e com a recomposição de boa parte da cadeia global de fornecimento, os agentes financeiros já haviam reduzido os juros na ponta antes mesmo do anúncio do Copom. Segundo Calil Gedeon, cofundador e CFO da Monkey, maior marketplace de recebíveis da América Latina, as taxas já haviam precificado o corte da Selic e vinham em trajetória de queda nos últimos dois meses. “A taxa média de antecipação de recebíveis em nossa plataforma, que havia subido 33% no ano de 2022, começou a dar sinais de arrefecimento e uma leve queda de 2% no primeiro semestre de 2023”, afirmou o executivo. “Esperamos que se intensifique com o ciclo de queda da Selic.”
Parte da perspectiva otimista em relação à queda dos juros se explica por razões não ligadas diretamente à Selic ou à inflação. Uma ala majoritária do mercado financeiro projeta um segundo semestre mais aquecido do que o primeiro, o que deve ajudar a diminuir a inadimplência, turbinar a geração de empregos e, por consequência, estimular a concorrência entre os bancos e melhorar o ambiente para a concessão de crédito. De acordo com o Boletim Focus, o mercado financeiro aumentou em julho a previsão de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) para este ano pela oitava vez. Segundo o relatório, o país crescerá 2,19% em 2023. A previsão anterior era de crescimento de 2,18%. Para 2024, também houve aumento na estimativa do PIB de 1,22 para 1,28%. No mesmo sentido, o boletim manteve a tendência de recuo da inflação pela sétima semana consecutiva.
O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deve fechar este ano em 4,98%. No começo do ano, a projeção do mercado era de que a inflação ficasse em 5,69% em 2023. O problema é que, embora seja positiva a trajetória de queda da Selic, o Brasil continua no topo do ranking de juros reais mais altos do planeta. Na lista das 40 maiores economias do mundo, o Brasil é campeão mundial, com taxa de 6,68%. O cálculo leva em consideração tanto a inflação quanto os
juros futuros, estimados pelo mercado para 12 meses à frente, já que é a tendência futura dessas duas variáveis o que realmente influencia tanto o andamento da economia quanto as decisões do Banco Central para a Selic.
Para a taxa brasileira, calculada pelo economista Jason Vieira, divulgada no portal de investimentos MoneYou, a metodologia utilizou a inflação projetada para os próximos 12 meses pelo mercado e coletada pelo Boletim Focus, do Banco Central, que é de 4,07%. Os juros usados foram a taxa de juros DI com vencimento em outubro de 2024, data mais próxima com o maior número de negociações. Assim, os juros reais no Brasil se mantiveram acima das praticadas no México, Colômbia e Chile, que aparecem na sequência na lista com juros reais de 6,64%, 6,15% e 4,6%. Mesmo que ainda não seja perceptível aos olhos da economia, a queda dos juros na ponta, em decorrência do corte da Selic, deve começar a acontecer
assim que os efeitos da conjuntura econômica resultem em uma melhoria do ambiente de negócios. Segundo a economista Carla Beni, professora de cursos de MBAs da Fundação Getulio Vargas (FGV), a redução da taxa Selic indica para qual caminho o BC irá nos próximos meses, numa sinalização importante de que os juros devem cair em vez de subir. Para ela, como economia é feita de expectativas, o início de um ciclo de queda de taxas de juros aponta para um horizonte mais positivo ao setor produtivo nos próximos meses.